Hoje sei que sou
mulher de verdade.
Seios fartos.
Cabelos desgrenhados
pela noite mal dormida.
Rechonchuda dos filhos
que pari.
Hoje sei que sou
mulher de verdade.
Que às vezes grito e - tantas vezes, meu Deus - choro escondido num
quarto!
Por vezes minto que
são de uma lembrança antiga, um passamento, uma saudade...
é só pra esconder
aquela dor da hora que só a gente sabe.
Hoje sei que sou
mulher de verdade.
Sem medo de deixar que
apareçam meus cabelos grisalhos.
As marcas que afundam
minha face.
A balança que aumenta
sem piedade.
Hoje sei que sou
mulher de verdade.
Quando permaneço de
olhar aberto e dentro do peito me rasgo.
Hoje sei que sou
mulher de verdade.
Quando sou capaz de olhar
e ver que nada deu certo
e agora o que posso é pisar em cima da tal
realidade... que eu nem sei qual que ela é.
Hoje sei que sou
mulher de verdade.
E reconheço a
maquiagem de menina enrijecendo pela dor e idade.
Mas hoje, sim, digo
bem alto e firme, de cabeça erguida, que sou mulher de verdade,
Quando, apesar de tudo,
sigo envelhecendo.
Poema de Della Coelho